sexta-feira, 27 de março de 2015

6º e último dia - A Chalana

Enfim o último dia! Saímos para embarcar na chalana, nada de andar quilômetros por dia, apenas sentar e aproveitar toda a exuberância pantaneira. Nossa saída foi às 07h35min, mais tarde do que o costume, seguindo com o transecto motorizado com destino a Miranda e então partindo para o trecho Miranda – São Francisco. Neste trecho pudemos observar uma grande fauna, como o Veado-Campeiro (Ozotoceros bezoarticus), muitas Emas (Rhea americana) e Tamanduá-Bandeira (Myrmecophaga tridactyla). Chegando à Fazenda São Francisco, partimos para o até o Corixo São Domingos, onde iríamos fazer nosso passeio de Chalana, que faz parte da Região do Pantanal - Miranda.
Corixo São Domingos

Um corixo pode ser um meandro abandonado, um braço de um rio que só flui na época da cheia. As águas do corixo vêm do Pantanal Norte chegando através de rios ou pelas chuvas. Fizemos então um transecto motorizado embarcado, observando e registrando a fauna silvestre e a paisagem avistada em ambas as margens do corixo. 

Foi um dia de grandes observações, como a de um Socó-boi (Tigrisoma lineatum) fazendo sua vocalização, jacarés (Caiman yacare) nadando ao lado da chalana, Socozinho (Butorides striata) na sua época de reprodução, mostrando suas pernas e olhos com coloração vermelha, várias espécies de Martim-pescador, Macaco prego (Sapajus cay) e uma Águia Pescadora (Pandion haliaetus), uma linda ave migratória da América do Norte, que estava sobrevoando a região.


Águia Pescadora (Pandion haliaetus)

5º dia - Bodoquena - A aparição da Anta

Depois de tantos quilômetros rodados, precisávamos fechar a semana com chave de ouro. E foi assim que se procedeu.
Em poucos metros de caminha, pudemos observar que a diversidade de espécies era enorme naquele lugar. Não sabíamos para onde olhar e para quem olhar. Aves voando por todo o lado, jacarés em pequenos lagos (Figura 1), mamíferos atravessando a estrada. Uma loucura!

Figura 1:  Jacaré-do-pantanal (Caiman yacare)
O dia começou ensolarado e muito quente, mas o grupo estava empolgado, pois havia muita coisa pra ser vista. Mas calma aí, toda essa movimentação não foi neeeeeeem o começo.

Durante um ponto fixo, por volta do meio dia, um dos integrantes do grupo decide caminhar sozinho por alguns metros, quando escuta um barulho vindo da vegetação na beira da estrada. Este integrante aproximou-se silenciosamente do local do ruído. De imediato, nada foi observado, até que o mesmo se aproximou tanto, mas taaaaanto do local do ruído, que ele pôde observar, sentir o cheiro, tocar, fazer carinho, abraçar, bater um papo, tomar um sorvete com o animal em questão. Era um Tapirus terrestris (Figura 2), sim, o maior mamífero terrestre brasileiro, A ANTA! 

Figura 2: Anta (Tapirus terrestris) - imagem da internet
Todos do grupo puderam chegar bem próximo do animal. Tratava- se de um macho adulto, muito grande, que pouco se importou com a nossa presença. E então a aventura estava prestes a começar, quando aquele integrante, aquele, que viu a ANTA pela primeira vez, teve um descontrole emocional, sua pressão caiu e o sistema nervoso central entrou em colapso. Os demais membros do grupo não sabiam se ajudavam a pobre pessoa caída no chão que chorava sem parar ou se tiravam foto e apreciavam a beleza do grande mamífero. Bom, faz parte da vida de todo biólogo.

Local da aparição da Anta.

Depois deste simples acontecimento que passou despercebido por nós do grupo, começou a garoar. Que delícia aquela chuva fina refrescante. Mal sabíamos que era o início de uma tempestade com raios e ventania. A chuva refrescante virou o maior medo de todos do grupo. Um medo que durou 2h e meia. Caiu muita água, impressionante!

E depois de uma tempestade dessa, vem o céu ensolarado, claro. Mas junto com o sol forte, tivemos que encarar dezenas de árvores caídas na estrada, que impediam a nossa passagem (Figura 3).

Figura 3: Árvores caídas que impediam o trânsito na estrada.


Este dia não poderia ser melhor. Faltava a cereja do bolo e ela veio, sem atraso.

4º dia - Trecho Aquidauana - Rio Negro

Quarto dia de campo e a cada novo dia uma renovação de energias ao pensar o que poderia estar nos esperando pela frente. Saímos antes do nascer do sol, como de costume, as 05h54min da pousada Pioneiro, seguindo com o transecto motorizado até Aquidauana e de lá partimos pelo trecho Aquidauana – Rio Negro. 

Figura 1: Solo arenoso, composto por partículas finas e bem soltas.
Demos início ao nosso transecto a pé as 07h20min da manhã, o tempo estava quente e abafado, às vezes ensolarado e às vezes nublado, para o nosso alívio. Percorremos uma estrada de terra seca, solo claro e arenoso (Figura 1), em que passavam muitos caminhões nos fazendo comer muita poeira (Figura 2). Foi um dia com poucas espécies observadas e um calor intenso.













Figura 2: Extenso caminho com a poeira alta devido
ao tráfego intenso de caminhões.
O relevo era plano com algumas inclinações em alguns trechos. Foi a primeira vez que avistamos uma Arara-Azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus) (Figura 3), ela estava em uma árvore e pudemos observa-la por um bom tempo, contemplando toda a sua beleza. Pudemos também ouvir a linda vocalização do João-Pinto (Icterus croconotus), que imita outras aves e o qual o gênero dá nome ao nosso grupo.



Figura 3: Arara-azul-grande, espécie em perigo de extinção.


3º dia - Toca da Onça

Mais um dia de campo e mesmo exaustos da caminhada do dia anterior, seguimos saindo as 05h51min da Pousada Pioneiro, com o transecto motorizado sentido Aquidauana e prosseguimos com o trecho Aquidauana – Toca da Onça. Iniciamos nosso transecto a pé as 08h30min da manhã, o tempo estava ensolarado, quente e úmido, como de costume. Pudemos observar durante este trecho paisagens mais alagadas, com animais de hábitos aquáticos que não tínhamos visto nos dias anteriores. O relevo era plano, com grandes áreas de pastos repletos de gado (Figura 1). Neste dia pudemos avistar mamíferos em maior quantidade, como o Tamanduá-Bandeira (Myrmecophaga tridactyla) que logo se escondia dentre os vales, não permitindo que pudéssemos ter uma recordação digital daquela cena, apenas o que ficou gravado na memória de quem teve a chance de ver. As aves que merecem destaque neste são o colhereiro (Platalea ajaja) (Figura 2) e o Maçarico-real (Theristicus caerulescens) (Figura 3).
Figura 1: Pastos com gado por todo o trecho do transecto a pé.

Figura 2: Bando de colhereiros

Figura 3: Maçarico-real


Depois de tanto caminhar pelo transecto a pé, terminamos o dia no centro da cidade de Aquidauana, para que todos os alunos fizessem a reposição dos suprimentos alimentares (Figura 4).

Figura 4: Centro da cidade de Aquidauana- MS

2º dia - Maciço do Urucum

No segundo dia de campo, a saída da pousada Pioneiro foi as 05h47min e seguimos com o transecto motorizado pelos trechos Pioneiro – Miranda, Miranda – Buraco das Piranhas, Buraco das Piranhas – Porto Morrinho, atravessamos o Rio Paraguai, prosseguimos então pelo trecho Porto Morrinho – Ladário, avistando ao fundo da paisagem o Maciço do Urucum e o morro testemunho chamado Morro do Azeite (Figura 1), até que chegamos ao nosso destino e iniciamos o transecto a pé pelo trecho Ladário – Porto da Manga, com uma elevação de 262 metros. O tempo estava muito quente e úmido, mas começamos a subir (Figura 2) a maior formação rochosa do Estado, o Maciço do Urucum. Subimos  401 metros do relevo e lá de cima, com uma grande elevação, pudemos observar uma paisagem indescritível da imensidão do Pantanal, o Rio Paraná e suas áreas alagadas (Figura 3).

Figura 1: Morro do Azeite (morro testemunho)


Figura 2: Subida no Maciço do Urucum

Figura 3: Visão do Rio Paraná
 Descemos e prosseguimos observando espécies lindas de animais bem ao nosso lado, como o Tuiuiú (Jabiru mycteria), ave símbolo do Pantanal, que passou sobrevoando e se exibindo para nós. Nesse dia andamos por volta de 22 Km, mas apesar do cansaço foi um dia inesquecível pela paisagem e fauna avistada.

1º Dia - Estrada Parque de Pirapotanga

No primeiro dia de campo, saímos por volta das 05h30min da pousada Pioneiro, onde estávamos hospedados, e percorremos um trecho com destino a cidade de Aquidauana. Chegando em Aquidauana, com uma elevação de 182 metros, seguimos destino a Pirapotanga. Ao fundo da paisagem deste trecho, pudemos avistar a Serra de Maracaju, que é um importante divisor de águas e fica entre as bacias do Rio Paraná e do Paraguai (onde estávamos). Depois de um tempo de viagem, iniciamos o nosso primeiro transecto a pé (Figura 1) às 7h45min, pelo trecho Estrada Parque de Pirapotanga, com uma elevação de 48 metros. 
Figura 1: Estrada do Parque de Pirapotanga
Neste dia, tivemos a sorte de encontrar na beira da estrada uma pequena casa, onde moravam uma senhora e seu filho. Nós paramos alguns minutos para conversar com os dois e ganhamos uma reposição de água gelada para aguentar mais algumas horas de caminhada.
Pudemos observar e retratar muitas espécies da fauna e flora Pantaneira bem de perto, que serão ilustradas algumas delas abaixo:
   


Nome científico: Griseotyrannus aurantioatrocristatus

Nome popular: Peitica-de-chapéu-preto

Também conhecido por bem-te-vi-cinza e mosqueteiro-cinzento, esta espécie possui o nome científico gigantesco que descreve claramente as características morfológicas da ave e é pior que um trava línguas.

Foto: Gabriel Melhado





Nome científico: Ara chloropterus

Nome popular: Arara-vermelha-grande


É conhecida também como arara-verde e arara-vermelha e mesmo sendo mais difícil de ser avistada, esta espécie não está ameaçada de extinção no Pantanal. Mas em outros estados do Brasil onde era comum avistá-la, hoje já não é mais observada.

Foto: Gabriel Melhado


Nome científico: Falco sparverius

Nome popular: Quiriquiri

Seu nome científico significa "falcão do tamanho de um falcão".

No momento desta foto, o grupo Icterus pôde observá-lo por vários minutos e ele não se incomodou com a nossa presença.

Foto: Larissa Carpigiani



Nome científico: Saltatricula atricollis

Nome popular: Bico-de-pimenta

O indivíduo desta foto é um filhote muito agitado, que não parava em galho algum e ficava sempre a pular e voar entre os arbusto, chamando a atenção do grupo. Foi uma foto difícil!

Foto: Gabriel Melhado

Nome científico: Galbula ruficauda

Nome popular: Ariramba-de-cauda-ruiva

Esta Ariramba pousar para as fotografias. Ficou pousada neste fio e em alguns momentos voava rápido e voltada com um inseto no bico.

Foto: Larissa Carpigiani

Introdução e Metodologia

Olá, queridos internautas
O grupo Icterus, vem por meio deste fotoblog contar um pouco sobre a nossa saída de campo ao Pantanal Sul Mato-grossense, referente a disciplina de Ecologia de Populações, ministrada pelo professor Dr. Harold Fowler, do curso de Ciências Biológicas da UNESP – Rio Claro. Tentaremos relatar o máximo da viagem, porém grande parte do que vivemos lá é inexplicável. Nossas experiências vividas neste período serão relatadas a partir das anotações presentes nas cadernetas de campo, fotografias e memórias de cada integrante do grupo.

A viagem ocorreu entre os dias 5 a 12 de janeiro saindo de Rio Claro sentido Pantanal dia 5 de janeiro às 5 horas da manhã, chegando às 21h na pousada Pioneiro, no município de Miranda-MS. Na volta, a viagem começou às 5 horas da manhã do dia 12 de janeiro chegando a Rio Claro- SP às 2h.
Entre os dias 5 e 11 de janeiro realizamos saídas de campo em transecto a pé, sendo no último dia, um transecto de chalana por um corixo. Passamos por várias cidades como Campo Grande, Aquidauana, Miranda, Terenos, Piraputanga, e também andamos por entre algumas formações rochosas (Figura 1) que compõem o Pantanal, como Serra do Maracajú, Serra da Bodoquena e Maciço do Urucum, que funcionam como divisores de águas das bacias do Paraná e do Paraguai, proporcionando vistas maravilhosas ao longo dos transectos.

Figura 1: Reunião dos alunos junto aos monitores, para análise geomorfológica dos
relevos presentes durante o transecto motorizado.


Todos os dias saíamos da pousada (aproximadamente 40 zumbis) às 5 da matina e retornávamos por volta das 18 horas. Durante todo esse período seguimos algumas metodologias de campo como transecto motorizado (Figura 2), realizado de ônibus a uma velocidade constante e de chalana no último dia, transecto a pé (Figura 3) em que andamos, em média, 12 km por dia. 

Figura 2: Transecto motorizado.
Figura 3: Uma das estradas pela qual o grupo Icterus realizou o transecto a pé.
Durante os transectos a pé, marcávamos um ponto fixo (Figura 4) a cada uma hora de caminhada. Nestes pontos fazíamos uma pausa de 10 minutos, onde dois integrantes do grupo descreviam a paisagem e os outros dois realizavam a coleta de formigas que obedecia a seguinte metodologia: eram distribuídos 10 tubos de ensaio com um pequeno pedaço de salsicha dentro como isca, 5 tubos de cada lado da estrada, a 10 metros distância entre cada tubo. Após 10 minutos, os tubos eram coletados e fechados com algodão. Ao final do tempo anotávamos as coordenadas e elevação do relevo, horário de início e fim do experimento e a temperatura do solo, esse procedimento se repetia a cada ponto fixo. Tanto no transecto motorizado, como a pé, a cada trecho diferente eram anotadas as coordenadas, a elevação, o horário de início e fim do transecto, a flora e fauna (muitas aves) observada e as condições do tempo. No transecto motorizado também era feita contagem de fauna atropelada ao longo das estradas. Outra metodologia que foi seguida a risca por todos os alunos foi estar presente toda noite no refeitório para comer, comer e comer e repor as energias (a gente merecia).


Figura 4 : Metodologia do ponto fixo do grupo Icterus
É galera, o trabalho foi pesado, mas afinal é a vida de Biólogo. Porém as belíssimas paisagens, e o encontro com vários animais diferentes a cada dia, compensavam todo o cansaço. Fomos acompanhados por dois monitores diferentes a cada dia, e consequentemente ouvimos e vivemos histórias diferentes, mas isso fica pra contar no blog...
Esperamos que vocês gostem de participar um pouco dessa viagem sensacional  que nos possibilitou experimentar (um tequinho) do que é a vida de um Biólogo em Campo.